Para entender: por que diante da pressão do Governo Lula contra vários bispos, Papa veio a se somar à CNBB na defesa da Igreja

TENTATIVA DE GOVERNO DE INTERFERIR NA IGREJA CATÓLICA É UMA OFENSA À LIBERDADE RELIGIOSA E REVELA TENDÊNCIA DITADORIAL

Bispos devem lembrar fiéis que voto está destinado á promoção do bem comum, disse Bento XVI (L'Osservatore Romano)

Bento XVI recebeu os bispos do Regional Nordeste 5 da CNBB (correspondente ao Estado do Maranhão) às 11h em Roma (7h no horário de Brasília) da manhã de 5ª feira, 28 de outubro, por ocasião da visita que a cada cinco anos todos os bispos devem fazer ao Papa (a assim chamada visita ad limina Apostolorum), com o objetivo de expor o balanço das principais atividades da diocese ou região, acolher as sugestões e orientações e refletir sobre as opções e alternativas pastorais.

Durante a  visita o Papa rejeitou com firmeza as estratégias políticas que tentam fazer do aborto um direito humano.

“Seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural. (…) Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal

democrático é atraiçoado nas suas bases”.

Ao afirmar ser missão da Igreja fermentar a sociedade com o Evangelho, o Papa defendeu o dever dos bispos emitirem juízo moral também em matéria política quando “os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem”, lembrando, porém, que “o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos. (…) O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato”.

O Bispo Emérito de Viana (MA), Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges, fez o discurso de saudação ao Papa em nome do episcopado. O Pontífice, por sua vez, agradeceu o zelo e dedicação dos bispos, indicando os grandes problemas de caráter religioso e pastoral. “O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança”, disse.

Ao final deste post alguns trechos mais da fala do Papa Bento XVI, fala esta colocada, logo antes desses trechos, na íntegra em pdf, para ser baixada por quem desejar, assim como na íntegra também pode ser baixado o pronunciamento dos bispos do Maranhão.

Na mesma ocasião e com os mesmos objetivos coincidiu de se realizar a visita anual da Presidência da CNBB ao Papa (composta por seu presidente Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana em MG, o vice  Dom Luis Soares Vieira, arcebispo de Manaus no AM e o secretário geral Dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro).

No dia seguinte (29), ainda em Roma, a Presidência lançou uma nota (a qual pode ser lida no site da CNBB), onde se diz: “Com alegria e gratidão acolhemos, em primeira mão, o discurso que o Papa Bento XVI dirigiu a esses nossos irmãos Bispos [os do Maranhão] e, através deles, a todo o episcopado brasileiro. Em seu pronunciamento, o Santo Padre confirmou a preocupação constante da Igreja no Brasil em defesa da vida, da família e da liberdade religiosa. O Santo Padre enfatizou o direito e o dever de cada Bispo, em sua Diocese, de orientar seus fiéis em questões de fé e moral, inclusive em matéria política, confirmando o que a CNBB havia recordado em documentos, notas e entrevistas anteriores. O mesmo direito e dever, de acordo com as normas canônicas, estende-se à própria Conferência enquanto organismo a serviço da comunhão episcopal e da pastoral orgânica em nosso país.”

Uma resenha das tentativas do Governo Lula de silenciar a Igreja nesta eleição

VIDE TAMBÉM:

CLIQUE “Denúncia: Governo Lula tenta interferir na CNBB para beneficiar Dilma” sobre o “pedido” do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho à CNBB e ao núncio apostólico pra “intervir” junto aos bispos contrários à candidatura de Dilma.

CNBB lança CF 2011 e responde à tentativa de ingerência do Gabinete da Presidência: não se pode silenciar a Igreja” quando a direção nacional  da entidade, apesar de não se manifestar sobre algum candidato em particular e apenas indicar critérios, insiste: “O bispo tem plena autonomia. Ele tem o direito e o dever, de acordo com sua consciência, de orientar os seus fiéis”, inclusive indicando candidatos aos integrantes de sua diocese.

O EPISÓDIO DOS PANFLETOS APREENDIDOS

ENQUANTO ALGUNS CEDEM ÀS PRESSÕES OUTROS RESISTEM

17/10/2010 18h24 – Atualizado em 17/10/2010 21h37

Bispo de Regional da CNBB defende divulgação de panfleto contra Dilma

‘Divulgação continua agora no segundo turno’, diz dom Benedito Beni.
Bispo diz que distribuiu 10 mil panfletos em 31 paróquias de Lorena.

Robson Bonin Do G1, em Brasília

O texto é legítimo e foi aprovado no dia 26 de agosto, em São Paulo. A comissão episcopal representativa do Regional Sul 1, que engloba diversos bispos, fez uma nota no dia 26 de agosto, pedindo que esse apelo aos brasileiros e brasileiras tivesse ampla divulgação e isso ficou a critério de cada bispo. A divulgação começou a ser feita antes do primeiro turno e continua agora, antes do segundo turno. De modo que é um documento 

A diocese de Lorena, conta com 14 cidades do vale histórico e tem como bispo Dom Benedito Beni dos Santos

legítimo assinado pela presidência do Regional Sul 1 em nome do conselho episcopal”

Dom Benedito Beni dos Santos, bispo diocesano de Lorena

O vice-presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Benedito Beni dos Santos, questionou neste domingo (17) a versão apresentada pelo presidente do regional, Dom Nelson Westrupp, segundo a qual o Regional Sul 1 não patrocina a impressão e a distribuição de folhetos a favor ou contra candidatos.

“O texto é legítimo e foi aprovado no dia 26 de agosto, em São Paulo. A comissão episcopal representativa do Regional Sul 1, que engloba diversos bispos, fez uma nota no dia 26 de agosto, pedindo que esse apelo aos brasileiros e brasileiras tivesse ampla divulgação e isso ficou a critério de cada bispo. A divulgação começou a ser feita antes do primeiro turno e continua agora, antes do segundo turno. De modo que é um documento legítimo assinado pela presidência do Regional Sul 1 em nome do conselho episcopal”, disse ao G1 dom Benedito Beni dos Santos, que é bispo diocesano de Lorena (SP).

Neste sábado [16/10/2010], uma gráfica no bairro do Cambuci, em São Paulo, informou que imprimiu 2,1 milhões de folhetos com o texto intitulado “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”, assinado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB. A candidata Dilma Rousseff classificou a distribuição desses folhetos como “crime eleitoral”.

Dom Benedito dos Santos confirmou que o panfleto foi distribuído pela comissão. “Recebemos diretamente da Comissão em Defesa da Vida”, disse. A área de abrangência do Regional Sul 1 da CNBB compreende todo o estado de São Paulo.

O texto relaciona o PT e a presidenciável Dilma Rousseff à defesa da legalização do aborto e recomenda “encarecidamente a todos os cidadãos brasileiros e brasileiras” que, “nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto”.

No sábado (16), o PT registrou boletim de ocorrência na polícia e fez uma representação à Justiça Eleitoral. Neste domingo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ordenou à Polícia Federal a apreensão dos panfletos na gráfica.

Na nota divulgada neste domingo, o presidente do Regional Sul 1, Dom Nelson Westrupp, e demais bispos afirmaram que “não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor”.

‘Ampla difusão do documento’
Para dom Benedito Beni dos Santos, um dos integrantes da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, que assina o documento “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”, distribuídos em igrejas católicas, a nota deste domingo contraria a decisão de “dar ampla difusão do documento”.

“Em nota do dia 26 de agosto, a presidência e a comissão representativa dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua reunião ordinária, acolheram e recomendaram a ampla difusão do ‘Apelo a todos os brasileiros e brasileiras’. Assina a nota o presidente do Conselho Episcopal dom Nelson Westrupp. Então, causou a mim estranheza que essa nota tão clara seja agora, de certo modo, considerada como não autêntica”, disse dom Benedito dos Santos.

O bispo diocesano de Lorena diz que ficou “a critério de cada bispo” do Regional Sul 1 a divulgação do documento em forma de panfleto.

Apenas em Lorena, segundo ele, foram distribuídos 10 mil panfletos nas 31 paróquias da diocese. “Distribuímos para 31 paróquias da diocese e continuamos distribuindo no segundo turno. Estamos sendo fiéis ao que o representativo do Regional 1 pediu”, justificou.

O bispo chama de “oportunismo eleitoral” a carta apresentada pela candidata do PT na qual afirma ser contra o aborto e explica a orientação repassada aos fiéis.

“O documento cita o nome dela [Dilma] como aquela que aprovou o 3º Programa de Direitos Humanos do Governo. A nota não aconselha a votar nela. É uma recomendação de não votar no Partido dos Trabalhadores e em todos os candidatos favoráveis ao aborto”, declarou.

Veja abaixo reprodução do folheto distribuído pelo Regional Sul 1 da CNBB:

Panfleto contra Dilma com texto do Regional Sul I da CNBB. (Foto: Reprodução)

Discurso em pdf dos bispos do MA ao Papa, na visita ad limina em 28out2010

Íntegra do discurso do Papa aos bispos do Nordeste 5 em 28out2010 (em pdf)

TRECHOS DO PRONUNCIAMENTO DO PAPA AOS BISPOS QUE LHE VISITAVAM (entre parêntesis link para acessar o documento ao qual faz referência)

(…) o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29).

(…) Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et Spes, 76).

(…), seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural (cf. Christifideles laici, 38).

Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74).

(…) Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida “não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo” (ibidem, 82).

(…) Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é “necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o ‘Compêndio da Doutrina Social da Igreja'” (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3).

(…) Deus deve “encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política” (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.
(…)

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